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Texto: Maria João Amorim | |
20 Fevereiro 2009 |
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Pôr um bebé a dormir com os pais é ou não um erro do ponto de vista educacional? De todo, diz Pedro Caldeira da Silva, pedopsiquiatra do Hospital Dona Estefânia. Pode até ser a solução para alguns problemas. O médico dá o exemplo dos bebés irritáveis ou difíceis de acalmar. Dormir com os pais é, por vezes, o caminho para a tranquilidade. Esse é, aliás, um dos conselhos terapêuticos que frequentemente dá quando lhe surgem casos desses.
O medo de que os bebés se tornem «mimados» ou cheios de vícios por dormirem com os pais é infundado, esclarece Pedro Caldeira da Silva. «Dormir em família pode ajudar a regular o sono. Os bebés tornam-se mais calmos e os pais mais tranquilos.» Cada bebé é um bebé, diz o médico, e há bebés que «para se sentirem bem, precisam de dormir com os pais.» Outros não. É por isso que Pedro Caldeira da Silva raramente dá conselhos sobre o sono das crianças. «O que eu digo aos pais é: conheça o seu bebé.» Tal como os adultos, «as crianças têm necessidades individuais e características diferentes. Nenhuma regra serve para todas.»
Desaconselhar (ou aconselhar!), genericamente, o cosleeping é, por isso, simplista. «Os especialistas metem-se muito onde não são chamados, inclusive na cama dos pais. Há muitas maneiras de adormecer um bebé.»
EM NOME DE UMA AMAMENTAÇÃO DE SUCESSO
A médica de família Celina Pires, impulsionadora de um programa para a promoção do aleitamento materno no Centro de Saúde de Belmonte, onde trabalha, partilha da mesma ideologia: «Não dou receitas, cabe a cada família decidir como quer dormir.» Celina Pires conhece bem o fenómeno do cosleeping. A taxa de amamentação das utentes do CS Belmonte é elevada. Para facilitar o processo, muitas mulheres decidem dormir junto dos seus bebés. «É mais fácil conciliarem os despertares nocturnos», explica a médica, autora também do primeiro site português sobre amamentação (www.leitematerno.org). Com os sonhos em sintonia, mãe e bebé entendem-se quase sem dar por isso e a amamentação decorre sem que ambos estejam completamente despertos. «As mães que partilham a cama com os seus bebés têm tendência para dar de mamar durante mais tempo: as crianças mamam mais frequentemente e, assim, estimulam a produção de leite das mães», explica Celina Pires.
Dormir em família em nome da amamentação e do repouso, portanto. «Estudos sobre o sono demonstram que as mães que partilham a cama com os seus bebés têm um sono mais longo e mais reparador», esclarece a médica. Por seu lado, «os bebés que dormem com as mães têm menos episódios de apneia: devido à proximidade, é mais fácil detectar quando alguma coisa não está bem.»
A atitude negativa da sociedade em geral e dos profissionais em particular sobre o cosleeping não tem fundamento científico, explica Celina Pires, acrescentando: «É um desejo legítimo querer dormir com os filhos e, excluindo situações de potencial risco para a morte súbita, não há razão nenhuma para que não se possa fazê-lo.»
O RECEIO DA MORTE SÚBITA
Ainda assim, autoridades científicas como a Academia Americana de Pediatria (AAP) desaconselham a partilha da cama entre pais e filhos. A posição tem mesmo endurecido ao longo dos últimos anos, sobretudo desde que, em 1999 a Comissão de Protecção dos Consumidores nos EUA emitiu um comunicado a alertar para o risco de sufocação dos bebés quando estes dormem com os pais. A Comissão justificava a medida com os resultados de estudos que haviam estabelecido um risco maior de morte súbita quando os bebés dormem com os pais na mesma cama. Celina Pires questiona esta relação: «Esse risco é importante quando algum dos adultos que dorme com o bebé é fumador. No entanto, quando nenhum dos pais fuma e o bebé tem mais de oito semanas, o risco é insignificante.»
Que dizer, então, dos estudos nos quais a AAP se baseia para desaconselhar o cosleeping? «Nem todos os estudos avaliaram o consumo de álcool ou drogas por parte dos adultos, assim como não fizeram a distinção entre dormir em ambientes seguros ou inseguros, como os sofás, que já está demonstrado serem um factor de risco para a morte súbita», explica Celina Pires. Além disso, as investigações que existem «demonstram a associação entre duas variáveis [dormir com os pais e morte súbita do bebé], mas não podem definir um nexo de causalidade.»
Isto mesmo defende um dos investigadores norte-americanos com mais créditos na área do cosleeping, James McKenna, professor na Universidade de Notre Dame e director do Laboratório Comportamental do Sono Mãe-Bebé da mesma instituição. Dormir na cama dos pais não pode ser considerado, por si só, um risco, diz McKenna. É preciso ter em conta os contextos individuais. O investigador critica o discurso negativo instituído sobre o cosleeping: «Dormir em família pode ser uma decisão responsável, reflexo da forma como os pais querem alimentar os seus bebés e maximizar o seu bem-estar», escreveu numa revisão científica recente sobre o assunto.
«NÃO QUERO SALTAR ETAPAS»
Margarida Marques também dorme perto da filha desde o primeiro dia. Ainda a colocou no berço quando chegou da maternidade, mas, por alguma razão que não sabe explicar muito bem, intuição talvez, aquela imagem não lhe pareceu correcta. Levou-a, então, para a cama grande e aninhou-a junto de si e do marido. Dormiram assim durante os primeiros seis meses de vida da Inês. Depois decidiram pô-la numa cama de grades encostada à cama de casal. Puxaram um dos lados para baixo e engendraram uma cama grande, com espaço para todos dormirem à vontade.
Nunca consideraram que esta opção prejudicasse a relação entre ambos. É um facto que, em termos práticos, obriga a um esforço de imaginação, reconhece Margarida. Mas, «em termos afectivos, nunca nos sentimos separados pela nossa filha, antes pelo contrário».
Inês está prestes a fazer três anos e ainda dorme ao lado dos pais, mamando quando lhe apetece. «Faz sentido para nós e para ela», resume Margarida. Até quando vão dormir em família não sabe – Margarida suspeita que a transição esteja para breve: Inês já declarou que «qualquer dia» se muda, definitivamente, para o seu quarto, onde já dorme as sestas -, sabe apenas que não quer saltar etapas. «Sinto que, desta forma, estou a respeitar o ritmo e o crescimento dela.»
Estar próxima, pele com pele, dar mama, calor, colo e afecto, de dia e de noite, é o que Margarida quer para a sua relação com a filha. Receio de atrasar a independência? «Para mim, é exactamente ao contrário: as crianças tornam-se autónomas tendo uma base de confiança, que se constrói respondendo às necessidades delas.» Inês não tem dificuldades ao nível da autonomia. Prova disso é a forma como decorreu a primeira sesta na escola. Inês, simplesmente, deitou-se na cama e dormiu. Sem mama, sem mãe, sem drama. «Para ela, a hora de ir dormir é um prazer.»
Educar uma criança para a independência é dar-lhe tempo para crescer, defende Margarida. Respeitá-la, dar-lhe segurança. Porque a autonomia não precisa de ser uma vitória das forças externas à criança. Também pode vir de dentro. A seu tempo.
Um comentário:
Ola Sandra, por coincidencia falamos deste tema ontem, e agr q vim aki ao seu blog e vi isto, ainda fikei mais convencida q afinal faço mm bem em seguir o meu instinto :) !!! Beijinhos
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